quinta-feira, 18 de março de 2010

diário de vila do conde 35

a poesia de petr borkovec não é evidente. tem uns muros altos, na entrada, que chegam a ser pouco convidativos. demorei dias a chegar-lhe, a entender-lhe os versos, as palavras. digo-lhe, no cais de gaia, que me sinto próximo da ambiência de desolação que ele carrega nos seus poemas. ele ri-se, como quem não acredita ser possível que se lhe perceba assim o âmago do que escreve. no seu comboio:

os céus abrem, dilúvios de luz: pai

com filha adulta, macia, eu, o cheiro

das roupas molhadas, alguns lugares atrás uns soldados.