sexta-feira, 15 de outubro de 2010

apagão

cento e quarenta e sete dias a apagar mensagens das paredes do meu prédio, cento e quarenta e seis dias esquecido do essencial, cento e tantas mãos passadas pelas rugas do edifício, cento e muitas línguas insultadas no processo. tantas e tantas coisas que agora nem me lembro, muitas centenas de pessoas que me olham com desprezo, recuando sempre, enfim, até ao mesmo passo. cento e quarenta e cinco dias e agora o que sei eu, dessas coisas que nas cabeças fazem ninhos, põem ovos, nasce gente. cento e mesmos muitos dias e o calendário desactualizado, dizer disto um poema é ainda pouco para aquilo que eu queria ter mostrado. mas no fim, tudo é apagado.