domingo, 31 de outubro de 2010

soletrar

não voltarei a soletrar domingo, não voltarei a repetir ao moço do café a mesma coisa que já nem sequer reconheço, tal a maneira como as letras soltas se indignam ao formar uma palavra que, repetida re-pe-ti-da na boca se desfaz de significados comuns. não voltarei a soletrar pedidos, não voltarei, sequer, para pedir nada. ficamos os dois sentados, os olhares afastados, o tempo que passa. eu não, eu não. algumas crianças a brincar no passeio, algumas conversas sempre as mesmas nas mesas em redor, eu sem soletrar, sem pedir, pois não, não voltarei a soletrar domingo, ou qualquer dia da semana, não voltarei a arder no vazio de uma palavra que não quer já dizer nada.